Tudo se voltou contra Jiankui, o cientista que chocou o mundo ao anunciar o nascimento de gêmeas que ele modificou geneticamente. Seus colegas no Congresso de Edição de Genética Humana em Hong Kong repudiaram o experimento. , um ato irresponsável. As autoridades chinesas que já haviam anunciado a abertura de uma investigação, proibiu o geneticista e sua equipe de continuarem seus experimentos, por ser algo inaceitável. Segundo o ministro chinês de Ciência e Tecnologia Xu Nanping, em entrevista, ao fazer isto, o cientista ignorou os principios éticos e morais que governam a comunidade acadêmica, além de violar descaradamente as leis chinesas.

Talvez ele se imagine um novo Robert Edwards, o pai da fertilização in vitro. Mas não parece se lamentar, em uma audiência de mais de milhares de pessoas na quarta-feira, He disse que estava orgulhoso de seu experimento. Válido lembrar que o jovem cientista era quase, com poucas publicações em seu curriculum era desconhecido até domingo passado.

O cientista com complexo de Deus pisou no tablado do congresso se sentido uma estrela de cinema, e pediu desculpas pelo vazamento das informações antes da revisão cientifica, mas será que foi vazamento ou foi premeditado?

Cientistas com quem ele conversou nos últimos dois anos garantem que em nenhum momento He disse que trabalhava com o objetivo de implantar embriões e conseguir uma gravidez bem-sucedida. Feng Zhang, um dos pais da tecnologia CRISPR, empregada pelo geneticista chinês, lembra que "ficou claro que ele tinha os mesmos problemas que outros pesquisadores sobre a falta de eficiência e precisão" desse método. "Eu disse a ele que a tecnologia não é suficientemente eficiente nem precisa para sua aplicação em embriões no mundo real, incluindo as aplicações de fertilização in vitro em humanos", disse à publicação especializada SLAT.

Na China, ele aparentemente também não revelou seus planos. Embora o experimento tenha sido conduzido em Shenzhen, no sul, onde He tem seu laboratório, ele recrutou os casais voluntários por meio de uma organização humanitária contra a Aids em Pequim. Obteve uma licença de sua Universidade, a SUST (Universidade Sul de Ciência e Tecnologia da China) e, embora esta instituição tenha custeado o experimento mediante recursos para start-ups, He garantiu que as despesas dos voluntários correram por sua conta.

A universidade se distanciou dele. E também o hospital com o qual ele supostamente colaborou, que denuncia a falsificação de assinaturas.

Como ele pôde atuar? Na China, as leis que regulam a pesquisa são vagas e sua aplicação é relativamente frouxa. A rigidez dos comitês de ética é altamente variável. A grande maioria dos acadêmicos e especialistas desenvolve seu trabalho dentro de rigorosos parâmetros éticos e científicos, mas a pressão para inovar em ritmo forçado e a abundante disponibilidade de dinheiro também tornaram possível iniciar projetos loucos que acabam dando em nada.

He é filho de camponeses, nascido no sul da China em 1984, estudou Física na Universidade de Ciência e Tecnologia da China. Continuou os estudos nos Estados Unidos: um doutorado em biofísica na Universidade Rice e um pós-doutorado entre 2010 e 2012 em Stanford, no laboratório do Professor Stephen Quake, onde pesquisou sequenciamento genético.

Em 2012 retornou à China, incentivado em parte pelo programa "Milhares de Talentos", que recompensa profissionais altamente treinados que queiram trabalhar no país, e obteve uma posição como professor associado na SUST, criada um ano antes em Shenzhen. Lá, seu trabalho se concentrou em pesquisas com macacos, ratos e embriões não viáveis.

Ou então era isso que dizia. Mas será que seu trabalho era contribuir para a comunidade cientifica e ajudar pessoas com doenças sem cura? ou Ser o primeiro a fazer algo extraordinário? Criar seres Humanos perfeitos?

José Pastor, diretor do laboratório da Universidade de Tsinghua, salienta que "quase certamente esse pesquisador não tem outro estímulo a não ser se tornar primeiro a fazer algo assim".