‘Robôs’ invadem a Bolsa de Valores
BRASÍLIA — Nem Hollywood foi capaz de prever o que acontece hoje no mercado financeiro: softwares que funcionam como robôs brigam por milionésimos de segundos e decidem sozinhos se uma ação deve ser comprada ou vendida. Bem longe da ficção científica, programas de computadores que operam em altíssima velocidade negociam no Brasil cifras que ultrapassam R$ 1,5 bilhão por dia. Fazem o papel dos antigos e estressados corretores da Bolsa de Valores e são programados para analisar vários dados, essenciais para a tomada de decisão, entre eles as notícias em tempo real. E nessa guerra bilionária e virtual, vale tudo: até colocar o servidor da corretora num endereço próximo à Bovespa para a informação chegar mais rápido aos clientes.
— Não é ficção científica, é realidade — brinca Marcos Elias, engenheiro, matemático e fundador da Touring, que desenvolve sistemas de negociação. — É um negócio perigoso, mas é a mesma coisa que discutir os problemas de trânsito num país onde não circulem carros. O trânsito é perigoso, mas não significa que seja melhor sem os carros.
Com a expansão do mercado, várias corretoras e até bancos correm para oferecer esse tipo de serviço de negociação automatizada em algoritmos, ou seja, de alta frequência. Nessa história, quem ganha é o cliente: paga menos quando compra mais rápido e ganha mais quando vende antes de o preço cair. E todos tentam tirar mercado da Link Corretora. Líder desse tipo de transação no Brasil, essa corretora montou seu servidor num endereço ao lado da BM&FBovespa.
O cotidiano das agências de notícias, cruciais para alimentar as máquinas com números, também mudou. Em vez de um, três ou quatro repórteres participam das divulgações econômicas para passar a maior quantidade de informações o mais rapidamente possível e alimentar os softwares que funcionam como robôs.
No Banco Central e no Ministério da Fazenda é assim. Os jornalistas se estapeiam pelos papéis com os dados da economia. Para colocar ordem nas divulgações, foi criado um método: cada repórter recebe um calhamaço. Depois de uma contagem regressiva e de um “já”, todos são autorizados a passar os dados por telefone. Ganha quem entregar o número mais cedo.
Três grandes agências dominam esse mercado: Reuters, Bloomberg e Broadcast. A CMA também compete por milissegundos. As principais pagam por um serviço de medição do “microtempo” em que uma agência publica sua notícia antes da concorrente. Nesse caso, o ditado “tempo é dinheiro” é mais que adequado. E ser mais rápido significa ampliar a clientela.