Investir desde cedo ajuda na educação financeira
Pais começam a aplicar em fundos de ações com o objetivo de criar reservas
para os filhos e também como forma de ensiná-los a poupar

O pequeno Vicente Schutz ainda não tem a exata noção do significado do dinheiro, mas já começa a construir uma reserva financeira para o futuro. Aos dois anos de idade, ele é sócio de uma série de empresas listadas na BM&FBovespa. Isso porque seu pai, o administrador de empresas Paulo Schutz, decidiu comprar para a criança cotas de um fundo de investimento em ações. Desde que Vicente nasceu, a família faz aportes periódicos para reforçar a poupança.

Aos poucos, histórias como a da família Schutz começam a se espalhar pelo Brasil. “Nos EUA, é comum que os avós ou os pais criem uma carteira de ações para os filhos ou netos para pagar a faculdade, por exemplo. Isso recém está começando a acontecer no Brasil, em função do histórico de inflação controlada dos últimos anos, que estimula a poupar”, constata Alessandro Barreto, gestor da Geral Investimentos. Investidor há 10 anos, Schutz não hesitou em conduzir o filho ao mercado de capitais desde cedo. Nos primeiros meses de vida de Vicente, o pai fez um aporte grande em fundo focado em papéis de companhias com possibilidade de crescimento no longo prazo.

“Decidi fazer isso para transmitir valores da gestão financeira a ele desde cedo, para que ele se apegue a isso. É muito importante ter uma reserva e saber gastar o dinheiro de forma consciente”, diz. Assim, a cada aniversário ou data festiva, os parentes começaram a ser estimulados a fazerem um depósito como presente.

Há pais que preferem expandir ainda mais o leque de investimentos dos filhos. É o caso de Celso Becker, distribuidor-contador do Tribunal de Justiça de Santa Cruz do Sul. Quando seu filho Gabriel nasceu, há oito anos, ele fez um plano de previdência privada para o primogênito. No segundo semestre do ano passado, a escolha foi por investir R$ 100,00 mensais em um fundo de ações. Por fim, os padrinhos abriram uma caderneta de poupança no nome do garoto.

Com isso, Gabriel dá indícios de uma disciplina com as finanças precoce. “Antes, quando ele ganhava dinheiro, gastava em seguida. Então, eu disse para ele começar a guardar na poupança, para, no futuro, ter mais dinheiro. Agora, ele está entendendo isso e começou a poupar mais”, comemora o pai.

O sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho, vê, atualmente, a renda variável como a melhor opção para quem deseja criar uma poupança em uma janela de 15 a 20 anos. “Com a queda nas taxas de juros, a opção mais óbvia é botar a maior parte do capital em renda variável, com o pai e os familiares fazendo aportes periódicos. As estatísticas mostram que o investimento em bolsa bem feito é imbatível em longo prazo”, defende.

De olho nesse nicho, algumas empresas administradoras de recursos procuram estimular os pais a investirem em nome dos filhos pequenos. “Procuramos expor aos nossos clientes que eles têm essa opção. O tempo é um grande aliado em investimentos de renda variável”, constata Bianchi Filho.

Para que a criança tenha seu nome incluso em um fundo de investimentos é preciso ter uma conta bancária, que pode ser aberta mediante a criação do CPF. “Apenas quando o filho completar 18 anos, o pai pode liberar a titularidade da conta”, ressalta o gestor da Fundamenta.

A conjuntura econômica de momento deve sempre ser analisada ao longo do processo de administração da carteira. Barreto, da Geral Investimentos, lembra uma velha receita, aplicável para investidores de todas as faixas etárias. “Não existe fórmula exata de posicionamento, mas é preciso diversificar. O que vai dizer o quanto aplicar mais ou menos em um ativo ou outro é o perfil do investidor, se é moderado ou agressivo”, sinaliza.

Para Barreto, com o cenário atual de queda de juros, inflação pressionada e maior expectativa de vida dos brasileiros, o ideal é sair da “zona de conforto”. “A garantia de rentabilidade alta na renda fixa não existe mais. Agora, é preciso olhar para os lados e analisar opções, como investimento em ações e fundos imobiliários”, acredita.Fonte-Jornal do Comércio