O ministro germânico das Finanças, de saída do cargo ao fim de oito anos, deixa o alerta: a liquidez colocada no mercado pelas autoridades monetárias e a elevada dívida pública e privada criam condições para uma nova crise.

O ainda ministro das Finanças alemão, que em breve cessará funções no âmbito do quarto mandato de Angela Merkel, aproveitou uma das suas últimas entrevistas no cargo para alertar para a possibilidade de uma nova crise económica e financeira internacional.

O responsável pelos cofres alemães durante a crise da Zona Euro alerta, em entrevista ao Financial Times, que os aumentos exponenciais da dívida a nível mundial e da liquidez nos mercados representam um risco importante para a economia internacional.

Na base desta possível nova crise estão as "novas bolhas" que Wolfgang Schäuble dizem ter sido causadas pela política ultraexpansionista das autoridades monetárias internacionais, que colocaram biliões de dólares nos mercados para travar os efeitos da crise iniciada em 2008.

"Por todo o mundo economistas mostram-se preocupados com os riscos crescentes da acumulação de mais e mais liquidez e com o crescimento da dívida pública e privada. Também eu estou preocupado, afirmou. A Alemanha é dos membros da região do euro mais críticos da continuidade do programa de compra de activos por parte do Banco Central Europeu.

Recentemente, o antigo presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Greenspan, e o Bank of America Merrill Lynch (BofaML), também chamaram a atenção para este fenómeno.

Na Zona Euro, o risco maior para a estabilidade da região reside nos activos tóxicos que ainda repousam nos balanços dos bancos, defende. Sobre o Brexit diz que o referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia provou o quão "tolo" é dar ouvidos "aos demagogos que dizem (...) que estamos a pagar de mais pela Europa" e disse-se certo de que o nacionalismo não voltará a emergir na Alemanha, apesar da entrada da extrema-direita no Parlamento nas últimas eleições.

Apesar do pessimismo, o ministro elogiou as "iniciativas vigorosas" para reformar a União Europeia (onde a França tem tomado a liderança em propostas, nomeadamente para alterações no funcionamento da Zona Euro) e disse que a região monetária dos 19 tem pela frente a tarefa de "reduzir os riscos, que ainda são muito elevados - estou a pensar nos balanços dos bancos em muitos estados-membros da União Europeia, que são ainda muito pesadas."

Desse reforço dependerá, segundo Schäuble, a forma como a Zona Euro enfrentará uma possível nova crise económica. "Não teremos sempre tempos tão positivos em termos económicos como agora," sustentou.